domingo, 26 de outubro de 2014

O ideal da extroversão


                                    Então, hoje irei comentar um pouco sobre o texto dessa semana que é um trecho do livro "O Poder dos Quietos" da autora Susan Cain. Susan tem uma personalidade introvertida e já atuou como advogada e consultora de negócios, então, nesse livro ela discute as vantagens desse tipo de personalidade e questiona os valores do mundo empresarial moderno.
                                   A introversão e a extroversão são um estudo de longa data e tradição, e é um dos temas favoritos dos psicólogos da personalidade. E por causa disso, há inúmeras pesquisas na área, e estas trazem dados muito interessantes sobre o assunto. Por exemplo, diz-se que entre 33% a 50% dos norte-americanos são introvertidos. Porém, mesmo com tanta prevalência na sociedade, há, nas pessoas, uma clara preferência pela ideia da extroversão. Pode-se dizer que há hoje em dia um Ideal da Extroversão, que diz que todos devemos seguir esse tipo de personalidade e todos devemos nos sentir confortáveis em ser o centro das atenções. Esse ideal está presente em diversas esferas da sociedade. Na escola, o aluno ideal é aquele que se comunica com todos da sala, e não se importa em trabalhar junto aos colegas. No trabalho, gostar de trabalhar em equipe e não se importar com reuniões constantes é praticamente pré-requisito para qualquer emprego. E graças à esse ideal, há uma grande subvalorização da personalidade introvertida, tão grande que pode até causar certa dor psicológica em quem a possui, pois, pode achar que tem algo de errado com ela.
                              A autora do texto, Susan Cain, diz possuir uma personalidade introvertida, e fala que sua primeira cliente foi ela mesma. Ao se formar advogada, teve que enfrentar situações que exigiam dela habilidades com as quais não se sentia confortável, como por exemplo, representar uma fábrica sul-americana a renegociar os termos de uma negociação com vários banqueiros e seus advogados. A partir desta experiência e de outras treinando pessoas em negociação, a autora pode adquirir um extenso conhecimento sobre os diversos tipos de personalidade, em especial, a personalidade introvertida.
                              Atualmente, há diversas definições possíveis para uma personalidade introvertida. Podemos olhar os tipos psicológicos de Carl Jung, por exemplo, ou definir extrovertidos a partir de características como tomar decisões rapidamente, se envolver em riscos, enquanto os introvertidos têm uma tendência ao trabalho centrado e concentrado. Mas uma forma mais interessante de definir introversão é defini-la em termos de "estímulos externos". A pessoa introvertida tem uma preferência por ambientes com pouco estímulo (exemplos de estímulos: muitas pessoas, uma festa barulhenta, etc). E, é interessante notar também que apesar de muitas vezes andarem juntas, introversão e timidez não são a mesma coisa. A primeira, já definimos: preferência por ambientes com baixo estímulo. A segunda seria um medo da desaprovação social e de possível humilhação social. E por último (neste parágrafo de definições), é importante frisar que não existe ninguém 100% extrovertido ou 100% introvertido. As pessoas são uma mistura de vários traços de personalidade e de história pessoal.
                              O ideal da extroversão presente na sociedade peca ao não reconhecer que a maioria das grandes invenções da humanidade vieram de pessoas introvertidas, trabalhando sozinhas. Para dar um exemplo, é citado o caso de Stephen Wozniak (que junto com Steve Jobs, viria a criar a Apple). Wozniak criou seu primeiro protótipo de PC trabalhando sozinho em casa lendo manuais de engenharia, e trabalhando até tarde da noite. Na sua autobiografia ("iWoz") ele, inclusive, dá esse conselho aos jovens: trabalhe sozinho.
                               Apesar de tantas pesquisas ressaltando as vantagens de uma personalidade introvertida, e as ligações desta com a criatividade (a solidão cria um ambiente de concentração necessário para a dedicação que tarefas complexas exigem), a sociedade foi e é organizada de forma à valorizar o trabalho em grupo acima de tudo. Esse tipo de ideia foi denominada "Novo Pensamento de Grupo", e este pensamento prega que as consquistas intelectuais vêm de um lugar sociável, e logo trabalhar em equipe é a regra em ambientes formais e educacionais. Algo que impulsionou essa ideia foi a Internet, pois pelo fato de uma variedade de coisas terem sido criadas colaborativamente (Wikipédia, por exemplo), faz-se a conexão (errada) de que em situações "físicas" também deve ser assim. Para que seja possível entender o valor do trabalho individual, podemos citar uma pesquisa feita com músicos de alto nível, e com músicos com um nível mediano realizado pelo pesquisador e psicólogo Anders Ericsson. O objetivo era verificar o que fazia os músicos de alto nível se destacarem tanto em seus campo. E o que se descobriu era que esses músicos passavam a maior parte de seu tempo praticando sozinhos. Nesse estudo solitário, eles identificavam onde estavam seus pontos fracos e podiam exercitá-los (diferente de quando se está em grupo, e só se reforça os pontos onde já se tem proficiência). Esse tipo de prática foi chamada de Prática Deliberativa. Até a tão consagrada ideia do brainstorming já foi alvo de pesquisa. E por incrível que pareça, os estudos demonstraram que realizar um "brainstorming" sozinho rende mais e melhores ideias do que quando realizado em grupo. As razões para isso (e podemos confirmar hoje em dia por meio dos aparelhos modernos da medicina) é que o medo da desaprovação social é algo muito forte, e mesmo com as técnicas formais de brainstorming para evitar julgamentos dos colegas, este medo ainda continua presente.
                       Enfim, o que este texto nos alerta é que essas ideias tão presentes na sociedade como o Ideal de Extroversão e o Novo Pensamento de Grupo, não são apoiadas pelos pesquisadores. Claro que comunicação em uma empresa é importante, assim como incentivar o convívio entre alunos de uma instituição de ensino, mas o que não pode ser feito é uma subvalorização do trabalho individual. E um preconceito com pessoas que tenham uma personalidade com tendência à introversão pode ser muito prejudicial, pois grandes ideias costumam vir delas.

Referência: Cain, S. (2012) O poder dos quietos. Rio de Janeiro: Agir.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Luto & Melancolia

                                                                             


                            Olá, visitantes anônimos. Hoje irei comentar sobre o texto que li esta semana: "Luto e Melancolia" do mais famoso médico da história: Freud. Nunca tinha lido algum texto dele, e nem conhecia sua terminologia, então achei o texto um pouco difícil de entender, mas irei tentar expor algumas das ideias abordadas.
                             Antes da falar do texto específicamente, é interessante falar um pouco do autor. Sigmund Freud nasceu em 1856, se formou em Medicina, e é considerado o criador do campo de investigação denominado Psicanálise. As contribuições de Freud são inúmeras, mas provavelmente a mais significativa foi o estudo e a atenção dada ao inconsciente. Nesse texto, Freud investiga o estado da melancolia, procurando entender suas causas, e comparando com o estado do luto, que é semelhante, porém não é considerado patológico. É importante notar, que Freud diz no começo do texto, que essa é uma investigação, e não deve ser considerada com verdade universal:

"[...]renunciamos de antemão a reivindicar validade universal para nossas conclusões e nos consolamos com a consideração de que, com nossos atuais meios de pesquisa, dificilmente descobriríamos algo que não fosse típico[...]"

                             Para investigar a melancolia, primeiro analisa-se o luto. Este estado seria um reação à perda de uma pessoa querida e seria caracterizado e teria como causas elementos muito parecido com os do estado de melancolia. Desinteresse, desânimo, perda de energia, seriam sintomas em ambos. A diferença é que no estado de melancolia há um rebaixamento da auto-estima. Além disso, nesse último estado nem sempre se tem consciência do que perdeu. 
                              Para explicar esses estados mentais, entram os conceitos de libido e ego. A libido seria a energia que nos impulsiona na vida, enquanto o ego seria o "eu", o componente psicológico da personalidade. No caso do luto, quando alguém perde uma pessoa querida, toda a libido relacionada àquela pessoa precisa ser retirada, só que há um resistência contra esse movimento, gerando então, um estado de luto. No caso da melancolia, é muito comum a pessoa se criticar, e fazer uma série de auto-recriminações. A explicação para isso seria que após sofrer uma decepção (ou algo parecido) com um objeto/ser a "imagem/sombra" do objeto cairia sobre o ego, dividindo este em dois: um instância crítica e uma instância que se identifica com o objeto. Então, quando a pessoa está se criticando ela está na verdade criticando a pessoa que causou essa decepção. Daí, se explica a baixa auto-estima, e também seria uma pista para os casos de suicídio (destruição do ego seria possível pois estaria tratando-se como o objeto perdido).
                              Portanto, o estado da melancolia poderia ser caracterizado por uma perda de um objeto ou abstração e uma reação frente à esta. Além disso, esse estado pode ser chamado de ambivalente pois há um "amor" pelo objeto e críticas/insultos em relação ao objeto. E por fim, deve ser considerado a ideia de regressão da libido para o ego, que explicaria alguns comportamentos.

                             Em época de estudos intensos de neurologia e como explicar tudo por meio do cérebro, Freud foca nos estudos do inconsciente e como podemos explicar nossos comportamentos por meio dele. Suas ideias influenciam até hoje a psicologia e são de grande valor.

Referência: Freud, S (2012) Luto e Melancolia. São Paulo:Cosacnaify

                                                                                           

domingo, 12 de outubro de 2014

Educação da mente

 

                           O texto que irei comentar essa semana é sobre um estudo realizado na Universidade de Wiscosin, com um monge tibetano. O objetivo da pesquisa era de estudar este monge em diferentes estados mentais (os quais ele consegue atingir após anos de treinamento) e descobrir se é realmente possível treinar nosso cérebro a lidar melhor com emoções destrutivas.
                           A ideia para a pesquisa surgiu em Dharamsala, em um diálogo entre Dalai Lama e um seleto grupo de cientistas. Nesse diálogo, temas como educação da mente, auto-administração emocional e propostas de pesquisa foram analisados. Richard Davidson, que participou desse diálogo, convidou o monge Oser para fazer parte do estudo. Oser, que se converteu ao budismo e passou mais de 30 anos recebendo a educação de monge tibetano no Himalaia, se mostrou deveras cooperativo e interessado nos exames e resultados da pesquisa. O objetivo de Davidson era estudar Oser pelos modernos equipamentos de análise científica para observar se estados cerebrais distintos são realmente possíveis de serem antigidos por meio da meditação.
                         Ao longo de seu extenso treinamento, Oser aprendeu uma série de estados diferentes de meditações. A equipe escolheu (junto com Oser), para a primeira bateria de testes, três estados específicos: 

                         1) Concentração em um ponto: nesse estado, é necessário focar em apenas um alvo, deixando todos os outros pensamentos de lado.
                         2) Compaixão: para esse estado, é necessário levar à mente o sofrimento dos seres vivos, e o fato de que todos querem a felicidade.
                         3) Visualização: construir um imagem mental completa de um deidade budista.

Nessa primeira bateria de testes, Oser foi analisado utilizando o equipamento fMRI e utilizando um medidor de ondas cerebrais. Com esses equipamentos, é possível ter uma ideia do que acontece durante cada ato mental. A análise dos resultados indicou que Oser conseguia, voluntariamente, regular as atividades do cérebro por meio de processos mentais. Além disso, também observou-se que o monge apresenta uma alta atividade cerebral em locais do cérebro associados à emoções positivas.
                        Outros testes também foram realizados e os resultados foram muito interessantes:
                        a) Oser e meditadores são melhores em reconhecer expressões faciais (demonstrando uma capacidade incomum para empatia)
                        b) Oser conseguiu suprimir o reflexo do susto (um reflexo muito intenso do susto indicaria uma maior propensão à emoções negativas)
                        c) Em análise de discussões, o monge conseguiu se manter calmo e racional
                        
(É interessante notar que pesquisas como esta que estudam emoções positivas são raras, a maioria foca no estudo de estados mentais negativos como depressão e ansiedade).

                        Enfim, a pesquisa com o monge foi de grande valor, pois demonstrou o conceito de neuroplasticidade, isto é, a capacidade do cérebro mudar em consequência de novas vivências. No caso de Oser, anos de treinamento nas artes de meditação e budismo o tornaram capaz de manipular seus estados mentais de uma forma bastante nítida, além de faze-lo mais propenso à emoções positivas.
                         Pesquisas como esta levam à uma reflexão sobre a forma com que a mente é tratada hoje em dia. A indústria de fármacos movimenta bilhões de reais todos os anos para muitas vezes nem conseguir trazer um benefício real para o paciente (sem contar todos os efeitos colaterais). Apesar de trabalhoso, métodos de meditação ou semelhantes, podem ser um caminho alternativo ou complementar para o tratamento de quem sofre de algum tipo de desconforto mental (ou mesmo para quem não sofre, mas quer ter uma melhor qualidade de vida). 

Referência: Lama, D. e Goleman, D. (2003) Como Lidar Com Emoções Destrutivas. Rio de Janeiro: Campus Ltda

domingo, 5 de outubro de 2014

Suicídio de Idosos em Teresina


                O suicídio é um problema mundial de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de suicídios aumentou em 60% nos últimos 50 anos. Estudar esse assunto é deveras importante, pois estima-se que a maioria dos suicídios que ocorrem a cada ano poderiam ser evitados.
                Um grupo que merece atenção especial são os idosos pois, de acordo com um estudo feito em 62 países, as taxas de suicídio aumentam com a idade. No Brasil, em 2007, a taxa na população idosa foi de 8,0 / 1000. O texto que irei comentar essa semana foi um estudo feito com o objetivo de descobrir os fatores que levaram cinco idosos à cometerem suicídio. Para isso, familiares e amigos próximos do falecido foram entrevistados.
                 Após fazer a chamada autópsia psicossocial desses cinco idosos que tiraram a própria vida, foi possível fazer um levantamento sobre causas em comum, e sobre pontos importantes que devem ser comentados e estudados. Pode-se notar uma angústia relacionada ao envelhecimento. No caso da "Joana", existia uma rejeição ao envelhecimento e uma busca incessante por uma aparência jovial. No caso de "Ana", ela sentia-se um peso para as pessoas ao seu redor. Personalidades impulsivas também foram uma característica comum nesses casos. Aliados à isso, o uso excessivo de álcool pode ser fatal, pois diminui a capacidade de segurar os impulsos. Além desses motivos, também se notou que em quase todos os casos, conflitos familiares estavam presentes. Finalmente, doenças físicas e transtornos mentais como distúrbios do humor e depressão também estavam presentes em parte dos casos. Enfim, "autópsias psicossociais" são de um imenso valor, pois é possível identificar elementos em comum, e com isso evitar casos semelhantes no futuro.
                Além de fatores em comum, outros pontos também se destacaram no estudo. Primeiro, seria sobre o valor dual da mídia nesses casos. Ao mesmo tempo, que é necessário divulgar o problema do suicídio para que mais pessoas estudem o assunto e para que mais pessoas busquem ajuda caso estejam em um quadro semelhante, a mídia também pode servir de estímulo para novos casos. É necessário pois, tratar o assunto de forma delicada, mas sem deixar com que vire um tabu na sociedade. Outro ponto importante de se comentar é o mito de que "quem quer se matar não avisa", ou seja, quem preconiza a própria morte estaria somente fazendo uma ameaça. Isso é um grande mito, pois de acordo com Werlang & Botega (2004), dois terços dos que cometeram suicídio comunicaram de alguma forma seus familiares ou amigos próximos.
                 Ao se entrevistar a família desses idosos, também se observou que o dano causado na família foi imensurável. O suicídio de um familiar afetou de várias formas todos que conviviam com ele. Culpa por não ter acreditado que iria acontecer, a falta de respostas são alguns resultantes. Observou-se até um desenvolvimento de um quadro de suicídio em alguns dos familiares, como comentou a ex-esposa de Carlos:

"Acho que o suicídio do meu filho é uma questão de tempo. Ele está em um estado tão crítico do alcoolismo que às vezes não reconhece a gente, delira e acorda gritando de madrugada. Ele nunca conseguiu se conformar com a morte do pai, seu grande herói. Ele sempre me disse que amava mais o pai do que eu"

                  Enfim, lendo esse texto pode-se concluir que o suicídio é um fenômeno construído e potencializado ao longo da vida de um indivíduo que teve uma vida marcada por sofrimentos. Normalmente, o ato acontece quando não se vê outra saída e é potencializado por uso excessivo de álcool e por transtornos mentais. Além disso, o dano causado em familiares é imenso.
                   Há uma tendência muito grande de não comentar o assunto, ou seja, ele é um tabu na sociedade atual. Mas discuti-lo é importantíssimo, pois assim pode-se identificar e prevenir casos futuros (metade dos que se mataram falaram com profissionais da área da saúde um mês antes da morte).

Referência: Servio, S.M.T. e Cavalcante, A.C.S. (2013) Retratos de autópsias Psicossociais sobre suicídio de idosos em Teresina. Psicologia: ciência profissão, 33, 164-175