domingo, 12 de outubro de 2014

Educação da mente

 

                           O texto que irei comentar essa semana é sobre um estudo realizado na Universidade de Wiscosin, com um monge tibetano. O objetivo da pesquisa era de estudar este monge em diferentes estados mentais (os quais ele consegue atingir após anos de treinamento) e descobrir se é realmente possível treinar nosso cérebro a lidar melhor com emoções destrutivas.
                           A ideia para a pesquisa surgiu em Dharamsala, em um diálogo entre Dalai Lama e um seleto grupo de cientistas. Nesse diálogo, temas como educação da mente, auto-administração emocional e propostas de pesquisa foram analisados. Richard Davidson, que participou desse diálogo, convidou o monge Oser para fazer parte do estudo. Oser, que se converteu ao budismo e passou mais de 30 anos recebendo a educação de monge tibetano no Himalaia, se mostrou deveras cooperativo e interessado nos exames e resultados da pesquisa. O objetivo de Davidson era estudar Oser pelos modernos equipamentos de análise científica para observar se estados cerebrais distintos são realmente possíveis de serem antigidos por meio da meditação.
                         Ao longo de seu extenso treinamento, Oser aprendeu uma série de estados diferentes de meditações. A equipe escolheu (junto com Oser), para a primeira bateria de testes, três estados específicos: 

                         1) Concentração em um ponto: nesse estado, é necessário focar em apenas um alvo, deixando todos os outros pensamentos de lado.
                         2) Compaixão: para esse estado, é necessário levar à mente o sofrimento dos seres vivos, e o fato de que todos querem a felicidade.
                         3) Visualização: construir um imagem mental completa de um deidade budista.

Nessa primeira bateria de testes, Oser foi analisado utilizando o equipamento fMRI e utilizando um medidor de ondas cerebrais. Com esses equipamentos, é possível ter uma ideia do que acontece durante cada ato mental. A análise dos resultados indicou que Oser conseguia, voluntariamente, regular as atividades do cérebro por meio de processos mentais. Além disso, também observou-se que o monge apresenta uma alta atividade cerebral em locais do cérebro associados à emoções positivas.
                        Outros testes também foram realizados e os resultados foram muito interessantes:
                        a) Oser e meditadores são melhores em reconhecer expressões faciais (demonstrando uma capacidade incomum para empatia)
                        b) Oser conseguiu suprimir o reflexo do susto (um reflexo muito intenso do susto indicaria uma maior propensão à emoções negativas)
                        c) Em análise de discussões, o monge conseguiu se manter calmo e racional
                        
(É interessante notar que pesquisas como esta que estudam emoções positivas são raras, a maioria foca no estudo de estados mentais negativos como depressão e ansiedade).

                        Enfim, a pesquisa com o monge foi de grande valor, pois demonstrou o conceito de neuroplasticidade, isto é, a capacidade do cérebro mudar em consequência de novas vivências. No caso de Oser, anos de treinamento nas artes de meditação e budismo o tornaram capaz de manipular seus estados mentais de uma forma bastante nítida, além de faze-lo mais propenso à emoções positivas.
                         Pesquisas como esta levam à uma reflexão sobre a forma com que a mente é tratada hoje em dia. A indústria de fármacos movimenta bilhões de reais todos os anos para muitas vezes nem conseguir trazer um benefício real para o paciente (sem contar todos os efeitos colaterais). Apesar de trabalhoso, métodos de meditação ou semelhantes, podem ser um caminho alternativo ou complementar para o tratamento de quem sofre de algum tipo de desconforto mental (ou mesmo para quem não sofre, mas quer ter uma melhor qualidade de vida). 

Referência: Lama, D. e Goleman, D. (2003) Como Lidar Com Emoções Destrutivas. Rio de Janeiro: Campus Ltda

Nenhum comentário:

Postar um comentário