domingo, 5 de outubro de 2014

Suicídio de Idosos em Teresina


                O suicídio é um problema mundial de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média de suicídios aumentou em 60% nos últimos 50 anos. Estudar esse assunto é deveras importante, pois estima-se que a maioria dos suicídios que ocorrem a cada ano poderiam ser evitados.
                Um grupo que merece atenção especial são os idosos pois, de acordo com um estudo feito em 62 países, as taxas de suicídio aumentam com a idade. No Brasil, em 2007, a taxa na população idosa foi de 8,0 / 1000. O texto que irei comentar essa semana foi um estudo feito com o objetivo de descobrir os fatores que levaram cinco idosos à cometerem suicídio. Para isso, familiares e amigos próximos do falecido foram entrevistados.
                 Após fazer a chamada autópsia psicossocial desses cinco idosos que tiraram a própria vida, foi possível fazer um levantamento sobre causas em comum, e sobre pontos importantes que devem ser comentados e estudados. Pode-se notar uma angústia relacionada ao envelhecimento. No caso da "Joana", existia uma rejeição ao envelhecimento e uma busca incessante por uma aparência jovial. No caso de "Ana", ela sentia-se um peso para as pessoas ao seu redor. Personalidades impulsivas também foram uma característica comum nesses casos. Aliados à isso, o uso excessivo de álcool pode ser fatal, pois diminui a capacidade de segurar os impulsos. Além desses motivos, também se notou que em quase todos os casos, conflitos familiares estavam presentes. Finalmente, doenças físicas e transtornos mentais como distúrbios do humor e depressão também estavam presentes em parte dos casos. Enfim, "autópsias psicossociais" são de um imenso valor, pois é possível identificar elementos em comum, e com isso evitar casos semelhantes no futuro.
                Além de fatores em comum, outros pontos também se destacaram no estudo. Primeiro, seria sobre o valor dual da mídia nesses casos. Ao mesmo tempo, que é necessário divulgar o problema do suicídio para que mais pessoas estudem o assunto e para que mais pessoas busquem ajuda caso estejam em um quadro semelhante, a mídia também pode servir de estímulo para novos casos. É necessário pois, tratar o assunto de forma delicada, mas sem deixar com que vire um tabu na sociedade. Outro ponto importante de se comentar é o mito de que "quem quer se matar não avisa", ou seja, quem preconiza a própria morte estaria somente fazendo uma ameaça. Isso é um grande mito, pois de acordo com Werlang & Botega (2004), dois terços dos que cometeram suicídio comunicaram de alguma forma seus familiares ou amigos próximos.
                 Ao se entrevistar a família desses idosos, também se observou que o dano causado na família foi imensurável. O suicídio de um familiar afetou de várias formas todos que conviviam com ele. Culpa por não ter acreditado que iria acontecer, a falta de respostas são alguns resultantes. Observou-se até um desenvolvimento de um quadro de suicídio em alguns dos familiares, como comentou a ex-esposa de Carlos:

"Acho que o suicídio do meu filho é uma questão de tempo. Ele está em um estado tão crítico do alcoolismo que às vezes não reconhece a gente, delira e acorda gritando de madrugada. Ele nunca conseguiu se conformar com a morte do pai, seu grande herói. Ele sempre me disse que amava mais o pai do que eu"

                  Enfim, lendo esse texto pode-se concluir que o suicídio é um fenômeno construído e potencializado ao longo da vida de um indivíduo que teve uma vida marcada por sofrimentos. Normalmente, o ato acontece quando não se vê outra saída e é potencializado por uso excessivo de álcool e por transtornos mentais. Além disso, o dano causado em familiares é imenso.
                   Há uma tendência muito grande de não comentar o assunto, ou seja, ele é um tabu na sociedade atual. Mas discuti-lo é importantíssimo, pois assim pode-se identificar e prevenir casos futuros (metade dos que se mataram falaram com profissionais da área da saúde um mês antes da morte).

Referência: Servio, S.M.T. e Cavalcante, A.C.S. (2013) Retratos de autópsias Psicossociais sobre suicídio de idosos em Teresina. Psicologia: ciência profissão, 33, 164-175

Nenhum comentário:

Postar um comentário