O texto dessa semana aborda a questão do vício em substâncias químicas, específicamente cocaína. Para isso, primeiro é dado uma visão geral da droga e seus efeitos, e depois uma ideia geral das propostas terapêuticas existentes para tratar desse quadro, destacando a importância da análise do contexto de uso da droga.
Antes restrita à segmentos da sociedade de alto poder aquisitivo, a cocaína se popularizou (parte devido ao uso do "crack", substância derivada) e agora seu uso se espalhou por classes variadas da população. Essa rápida expansão torna importantíssimos estudos como este para entender como ocorre a transição entre o uso controlado de uma substância para a perda de seu controle e como tratar da situação. O assunto é complexo por que um vício é uma mistura de uma série de fatores, tais como fatores bioquímicos, familiares, econômicos. Além disso, o contexto de uso da droga também é uma características que deve ser estudada pois pode ser importante na criação de efeitos pré-ingestão da substância.
Os efeitos da cocaína são variados, mas de modo geral, pode-se dizer que há uma fase inicial de euforia, hiperatividade, sudorese, agitação que será seguida posteriormente de uma fase de depressão ou disforia. Quando administrada repetidamente, essa substância produz uso compulsivo. Chama-se tolerância a necessidade de aumentar a dose para se obter o mesmo efeito que ela outrora produzia. E dependência seria a perda de controle sobre a ingestão. O que impulsiona o uso repetido da substância são denominados de reforço. O reforço positivo é o efeito da euforia citado anteriormente. E o reforço negativo são as alterações químicas que levam à um desconforto quando a droga é retirada do sistema e que é aliviado com o uso subsequente.
Há diferentes possibilidades de se analisar o vício. No passado era tratado simplesmente como um ato ilegal e posteriormente foi tratado como doença. Hoje sabe-se que é um quadro complexo, com alterações químicas (tolerância, reforços) e influências do ambiente. Sabe-se por exemplo, que acontece uma antecipação dos efeitos da droga na presença de eventos associados em um uso passado da substância. Descobriu-se que os chamados "sinais de contexto" já são suficientes para que dependentes mostrem desejo pela droga. Estes resultados têm grande influência no tratamento clínico desse quadro.
As formas de tratamento atuais diferem significativamente pois há diferentes arcabouços teóricos para lidar com o assunto. Por exemplo, há uma teoria motivacional que trabalha com diferentes estágios de motivação, e diz que para saber se um tratamento terá sucesso ou não, deve-se avaliar em qual desses graus de motivação o paciente se encontra. Outro modelo é o comportamental que irá entender o vício como decorrente da relação do organismo com o seu ambiente (comentado no parágrafo anterior). O interessante desse modelo é que entendendo a influência do ambiente é possível criar mais formas de tratamento como por exemplo, expor o paciente a pequenos estímulos do ambiente sem a droga para que ele aprenda a evitar a recaída.
Enfim, o texto dessa semana foi só a introdução de um estudo feito por uma aluna de psicologia sobre o assunto. Nessa pesquisa ela irá focar nesse aspecto dos complexos sinais de contexto que precedem imediatamente o uso da droga e também sinais que ocorrem bem antes do uso.
Referência: Almeida, A.M.C. (2008) Complexidade
de associações de estímulos condicionais de occasion setting do
contexto do uso de droga com abstinentes de cocaína: uma interface entre
o laboratório e a clínica. Universidade de São Paulo: tese de doutorado.
domingo, 16 de novembro de 2014
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Temperamento e Personalidade
O texto dessa semana é uma continuação do tema da semana passada. Trata-se ainda do livro da Susan Cain "O Poder dos Quietos", mas agora o trecho refere-se à capítulos que tratam sobre temperamento e personalidade. A questão à ser estudada é até onde a introversão de uma pessoa se deve à fatores genéticos e quanto o ambiente pode afetar essa personalidade.
Primeiro, é necessário definir a diferença entre temperamento e personalidade. O primeiro refere-se à nossa tendência genética de ter uma ou outra personalidade. A segunda ideia (personalidade) é bem mais complexa, pois envolve tudo ao nosso redor que nos influencia, como o ambiente em que vivemos, a cultura em que estamos inseridos. Logo, identificar quanto da nossa personalidade se deve à nossa genética não é uma tarefa fácil. Um dos cientistas que se aventurou nessa área foi Jerome Kagan, que, junto com sua equipe analisaram bebês e suas reatividades à estímulos (parte referente ao temperamento) e que acompanharam o desenvolvimento deles, e observaram que tipo de personalidades desenvolveram. O resultado, por mais que pareça contraditório, é que bebês altamente reativos têm uma tendência à terem personalidades introvertidas. Uma possível ideia é que as pessoas mais reativas teriam mais sensibilidade às novidades que aparecem na vida, sendo dessa forma, mais cautelosos de uma forma geral. A ideia de que crianças altamente reativas são afetadas mais fortemente por qualquer tipo de experiência (negativa ou positiva) chama-se Hipótese da Orquídea. De acordo com essa ideia, uma criança altamente reativa teria mais chance de desenvolver problemas caso enfrentasse ambientes negativos, mas por outro lado, caso cresça em um ambiente saudável, tem um potencial de desenvolvimento maior do que as crianças menos reativas.
Esse estudo de Kagan traz um resultado interessante, mas com tantas influências genéticas e ambientais, ainda estamos longe de uma resposta definitiva (se é que existe uma). Por exemplo, por mais que os defensores da influência do ambiente insistam que a genética pode não influenciar tanto assim, há uma tendência das pessoas que têm um certo temperamento buscar atividades que reforcem aquele temperamento, desenvolvendo uma personalidade estimulada pela nossa genética.
Então, a questão que fica é: apesar da genética e temperamento, até onde conseguimos moldar nosso comportamento? Bom, precisamos ainda de muita pesquisa na área, mas um grupo de cientistas que continuou a estudar a ideia de alta e baixa reatividade observou que os traços dessas reatividades continuaram na fase adulta, mesmo que as vezes o controle sobre si mesmo seja tão forte que pareça que eles desapareceram. A ideia desse experimento é que conseguimos moldar bastante nosso comportamento, mas nossa genética, lá no fundo, sempre terá importância.
O interessante dessas pesquisas, é que conhecendo essas ideias sobre personalidades e temperamentos, podemos adaptar nossos ambientes para que sejam mais agradáveis (já fazemos isso inconscientemente, mas sabendo disso podemos melhorar ainda mais). Se uma pessoa sabe que é introvertida, pode moldar a casa de tal forma que fique em um lugar com menos estímulos, por exemplo. Pode buscar empregos que tenham características que lhe agradem. É mais uma forma em que o auto conhecimento leva à melhorias pessoais.
Referência: Cain, S. (2012) O poder dos quietos. Rio de Janeiro: Agir. (capítulos 4 e 5)
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