segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Temperamento e Personalidade
O texto dessa semana é uma continuação do tema da semana passada. Trata-se ainda do livro da Susan Cain "O Poder dos Quietos", mas agora o trecho refere-se à capítulos que tratam sobre temperamento e personalidade. A questão à ser estudada é até onde a introversão de uma pessoa se deve à fatores genéticos e quanto o ambiente pode afetar essa personalidade.
Primeiro, é necessário definir a diferença entre temperamento e personalidade. O primeiro refere-se à nossa tendência genética de ter uma ou outra personalidade. A segunda ideia (personalidade) é bem mais complexa, pois envolve tudo ao nosso redor que nos influencia, como o ambiente em que vivemos, a cultura em que estamos inseridos. Logo, identificar quanto da nossa personalidade se deve à nossa genética não é uma tarefa fácil. Um dos cientistas que se aventurou nessa área foi Jerome Kagan, que, junto com sua equipe analisaram bebês e suas reatividades à estímulos (parte referente ao temperamento) e que acompanharam o desenvolvimento deles, e observaram que tipo de personalidades desenvolveram. O resultado, por mais que pareça contraditório, é que bebês altamente reativos têm uma tendência à terem personalidades introvertidas. Uma possível ideia é que as pessoas mais reativas teriam mais sensibilidade às novidades que aparecem na vida, sendo dessa forma, mais cautelosos de uma forma geral. A ideia de que crianças altamente reativas são afetadas mais fortemente por qualquer tipo de experiência (negativa ou positiva) chama-se Hipótese da Orquídea. De acordo com essa ideia, uma criança altamente reativa teria mais chance de desenvolver problemas caso enfrentasse ambientes negativos, mas por outro lado, caso cresça em um ambiente saudável, tem um potencial de desenvolvimento maior do que as crianças menos reativas.
Esse estudo de Kagan traz um resultado interessante, mas com tantas influências genéticas e ambientais, ainda estamos longe de uma resposta definitiva (se é que existe uma). Por exemplo, por mais que os defensores da influência do ambiente insistam que a genética pode não influenciar tanto assim, há uma tendência das pessoas que têm um certo temperamento buscar atividades que reforcem aquele temperamento, desenvolvendo uma personalidade estimulada pela nossa genética.
Então, a questão que fica é: apesar da genética e temperamento, até onde conseguimos moldar nosso comportamento? Bom, precisamos ainda de muita pesquisa na área, mas um grupo de cientistas que continuou a estudar a ideia de alta e baixa reatividade observou que os traços dessas reatividades continuaram na fase adulta, mesmo que as vezes o controle sobre si mesmo seja tão forte que pareça que eles desapareceram. A ideia desse experimento é que conseguimos moldar bastante nosso comportamento, mas nossa genética, lá no fundo, sempre terá importância.
O interessante dessas pesquisas, é que conhecendo essas ideias sobre personalidades e temperamentos, podemos adaptar nossos ambientes para que sejam mais agradáveis (já fazemos isso inconscientemente, mas sabendo disso podemos melhorar ainda mais). Se uma pessoa sabe que é introvertida, pode moldar a casa de tal forma que fique em um lugar com menos estímulos, por exemplo. Pode buscar empregos que tenham características que lhe agradem. É mais uma forma em que o auto conhecimento leva à melhorias pessoais.
Referência: Cain, S. (2012) O poder dos quietos. Rio de Janeiro: Agir. (capítulos 4 e 5)
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