Olá visitantes do blog, hoje irei comentar um estudo feitos por alunos do Mestrado em Psicologia da UFPE. Esse estudo tem como objetivo buscar as origens de um baixo desempenho escolar (com enfoque em classes sociais mais baixas).
Quando se fala em baixo desempenho escolar, há uma série de estudos que foram feitos sobre o assunto, e cada um com uma linha de pensamento diferente. Temos estudos que associam um fracasso escolar à uma privação cultural que culminaria em uma deficiência cognitiva no futuro. Há os estudos que associam um baixo desempenho escolar ao fato de uma desvalorização do estudo em classes sociais mais baixas, pois o trabalho precoce é comum nesse setor da sociedade. Há ainda os defensores do argumento de que o próprio sistema favorece classes sociais mais altas (colégios particulares vs colégios públicos, por exemplo). Mas, uma linha de pensamento que não tem tantos adeptos é a linha que diz que o fracasso escolar vêm da escola em si, que não consegue se adaptar aos diferentes tipos de estudantes. Com os dados deste estudo, essa última linha de pensamento ganha muita força.
O estudo consistiu em observar o desempenho de crianças de classes sociais mais baixas em testes de matemática. Mas o que diferencia este estudo de outros similares é que aqui, foram aplicados dois tipos de teste, o formal e o informal. No teste informal, as crianças são expostas à perguntas de matemática que estão inseridas em um contexto (por exemplo: "se 3 sucos são 35, quanto são 10 sucos?"). No teste formal, essas crianças são expostas às mesmas perguntas mas colocadas em forma de operações secas do tipo "quanto é (35 / 3) x 10?". Os resultado são impressionantes! As crianças acertam muito mais as questões do teste informal, ou seja, o contexto é um fator importantíssimo ao se aferir a capacidade (nesse caso aritmética) de um aluno. Além disso, essas crianças de classe social mais baixa, também demonstraram ser muito melhores em realizar contas de cabeça (dividindo o problema em sub-problemas por exemplo) do que escrevendo essas contas em papel e escrevendo um numero embaixo do outro, fazendo vai-um, etc. Ora, na escola são avaliadas de que forma? Com operações secas e tendo de escrever em papel e de realizar contas de formas não intuitivas!
Esse estudo indica que as escolas não conseguem realmente aferir a capacidade real dos estudantes. Ensinando de forma estática e não-natural, estudantes de classe social mais baixa podem ser tidos como tendo uma baixa capacidade escolar, quando na verdade só estão acostumados à uma forma diferente de pensar. A escola costuma ensinar operações matemáticas secas e tenta depois inseri-las em contextos. Seria muito mais produtivo fazer o contrário.
Referência: Carraher,T.N., Carraher, D.W. e Schliemann (1982) Na vida dez, na escola zero. Cadernos de Pesquisa, 42,79-86
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