domingo, 21 de setembro de 2014
Curva gaussiana & Carl Rogers
O primeiro texto que irei comentar hoje é um boletim do Instituto de Física da USP em que se compara uma avaliação por critério e uma avaliação por norma (utilizando a famosa curva gaussiana).
Quando um professor utiliza a curva gaussiana para avaliar seus alunos, ele está comparando cada aluno com a média da turma. O problema, propõe o professor que escreveu o boletim, é que fazendo uso dessa forma de avaliação o docente não consegue aferir se o aluno realmente aprendeu o que deveria em um determinado módulo, por exemplo. A alternativa, então, seria uma avaliação por critério, em que o aluno seria avaliado individualmente e sua nota seria proporcional ao quanto ele demonstrou saber do conteúdo ministrado.
Para reforçar a tese, o boletim cita uma pesquisa educacional feita com alunos de física em que estes tinham que resolver uma série de experimentos. O diferencial da pesquisa era liberar o parâmetro tempo dos alunos, além do material de ensino (auto-instrutivo) ser de alta qualidade. Quando analisaram os resultados, observaram que a maior parte dos alunos tinha tido resultados excelentes. Essa pesquisa demonstrou que se o fator tempo fosse mais flexível, os alunos conseguiriam demonstrar melhor seus conhecimentos.
Na minha opinião, esse texto põe em evidencia uma ideia importante que é a ideia de que há um incompetência por parte do sistema de ensino em avaliar adequadamente o aluno (a pesquisa demonstrou que com bons materiais, e com tempo adequado, os alunos conseguem ir bem). Porém, o texto peca ao ser muito tendencioso para o lado da avaliação por critério. O professor parte da premissa que uma avaliação que use a curva gaussiana não está sendo adequada em termos de estratégia de ensino, e uma avaliação por critério seria então mil maravilhas. Mas basta uma olhada em qualquer instituição de ensino para ver que isto não é verdade. Uma avaliação que utilize curva gaussiana pode inclusive proteger o aluno da incompetência de docentes que não têm habilidade em ensinar e muito menos em avaliar alunos. A curva gaussiana, avaliando sempre a média da turma, evita problemas do tipo um professor cobrando a matéria de uma forma que não condiz com o que ensinou. Além disso, não é por que utiliza-se a curva gaussiana que a estratégia de ensino necessariamente é rígida. Pode-se também liberar o parâmetro tempo, por exemplo, nessa forma de avaliação.
Enfim, o problema educacional é muito maior do que a forma de avaliação de ensino utilizada. Uma avaliação por critério definitivamente não garante uma boa estratégia de ensino. Muito antes de estudarmos formas de avaliação de alunos, é preciso ir até a raíz do sistema de ensino e corrigir suas falhas. Aí então, poderemos discutir se a curva gaussiana deve ser utilizada ou não.
Referência: Dib, C.Z. (2002) Afinal, o que você efetivamente mede quando sua avaliação é referenciada pela distribuição normal ? Boletim informativo do instituto de Física da USP. http://www.if.usp.br/bifusp/bifold/bif0218.html
Bom, o outro texto que vou comentar aqui é um texto que expõe as ideias do psicólogo americano Carl Rogers, com ênfase em suas ideias sobre educação.
Carl Rogers foi um psicólogo americano que desenvolveu um método terapêutico chamado "Abordagem Centrada na Pessoa". Essa abordagem segue uma série de conceitos em que a ênfase está na pessoa sendo avaliada e não no avaliador. Esse método segue conceitos que dizem que há um tendência da personalidade humana ao bem estar, ao desenvolvimento das suas potencialidades. Ou seja, o indivíduo tem recursos e autonomia para alterar suas atitudes. Além disso, essa abordagem também diz que a forma em que se dá o processo de comunicação entre os indivíduos também é importante para que haja um crescimento pessoal. Aceitar as opiniões individuais, se colocar no lugar do outro, ser autêntico na relação leva aos participantes do processo de comunicação à aceitaram a si mesmos, descobrir seus objetivos e traçar metas realistas para alcançá-los.
É fácil de ver que esta abordagem pode ter valor em outras áreas também, não só na psicologia clínica. E então, nasce a "Abordagem Centrada no Aluno". Aqui, é proposto que a ênfase do sistema de ensino saia da figura professor e passe para o aluno. O foco deve ser facilitar o processo de aprendizagem e crescimento pessoal e não um ensino copia-reproduz que se observa na maioria esmagadora das instituições de ensino. O assunto deve ser relevante ao aluno ("há uma tendência do indivíduo de desenvolver suas potencialidades"). O aluno deve participar ativamente do processo de ensino. E para todas essas ideias funcionarem adequadamente o professor deve ser um facilitador de aprendizagem, seguindo os conceitos de uma relação de comunicação saudável. Ou seja, o professor deve ser autêntico (mostrar-se como pessoa), aceitar o aluno e suas opiniões, compreender o aluno. Enfim, aprendizagem deve ser um processo em que o o professor é um orientador e que deve facilitar o crescimento do aluno como indivíduo.
É triste de comparar as ideias de Carl Rogers com a forma como a aprendizagem é tratada normalmente (professor sendo uma figura de autoridade e alunos repetindo conhecimento). A forma tradicional de ensino está ultrapassada e conceitos como estes poderiam aumentar o gosto dos alunos por aprendizagem. Algum dia, uma mudança tem de acontecer.
Referência: Capelo, F.M. (2010) Aprendizagem Centrada na Pessoa: Contribuição para a compreensão do modelo educativo proposto por Carl Rogers Revista de Estudos Rogerianos, A Pessoa como Centro, no. 5.
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